Quem sou eu

Minha foto
Lagoa Grande, Minas Gerais, Brazil
"Ser catequista é ser jardineiro de gente”. Catequizar, portanto, é isso, cuidar da planta da fé que nasce do jardim de Deus, cujos jardineiros somos nós catequistas, pais, sociedade e Pároco. Catequizar é uma arte... seja você um artista!

domingo, 5 de junho de 2011

PARÁBOLAS

O MONGE MORDIDO
     Um monge e seus discípulos iam por uma estrada e, quando passavam por uma ponte, viram um escorpião sendo arrastado pelas águas. O monge correu pela margem do rio, meteu-se na água e tomou o bichinho na mão. Quando o trazia para fora do rio o escorpião o picou. Devido à dor, o monje deixou-o cair novamente no rio. Foi então à margem, pegou um ramo de árvore, voltou outra vez a correr pela margem, entrou no rio, resgatou o escorpião e o salvou. Em seguida, juntou-se aos seus discípulos na estrada. Eles haviam assistido à cena e o receberam perplexos e penalizados.
     — Mestre, o Senhor deve estar muito doente! Por que foi salvar esse bicho ruim e venenoso? Que se afogasse! Seria um a menos! Veja como ele respondeu à sua ajuda: picou a mão que o salvava! Não merecia sua compaixão!
     O monge ouviu tranqüilamente os comentários e respondeu: — Ele agiu conforme sua natureza e eu de acordo com a minha.
POR QUE AS PESSOAS SOFREM 
     — Vó, por que as pessoas sofrem?
     — Como é, minha neta?
     — Por que as pessoas grandes vivem bravas, irritadas, sempre preocupadas com alguma coisa?
     — Bem, minha filha, muitas vezes porque elas foram ensinadas a viver assim.
     —Vó...
     —Oi...
     — Como é que as pessoas podem ser ensinadas a viver mal? Não consigo entender. Na minha escola a professora só me ensina coisas boas.
     — É que elas não percebem que foram convencidas a ser infelizes, e não conseguem mudar o que as torna assim. Você não está entendendo, não é, meu amor?
     —Não, Vovó.
     — Você lembra da estorinha do Patinho Feio?
     — Lembro.
     — Então... o Patinho se considerava feio porque era diferente. Isso o deixava muito infeliz e perturbado. Tão infeliz, que um dia resolveu ir embora e viver sozinho. Só que o lago que ele procurou para nadar havia congelado e estava muito frio. Quando ele olhou para o seu reflexo no lago, percebeu que ele era, na verdade, um maravilhoso cisne. E, assim, se juntou aos seus iguais e viveu feliz para sempre.
     — O que isso tem a ver com a tristeza das pessoas?
     — Bem, quando nascemos, somos separados de nossa Natureza-cisne. Ficamos, como patinhos, tentando aceitar o que os outros dizem que está certo. Então, passamos muito tempo tentando virar patos.
     — É por isso que as pessoas grandes estão sempre irritadas?
     — É por isso! Viu como você é esperta?
     — Então, é só a gente perceber que é cisne que tudo dará certo?
     — Na verdade, minha filha, encontrar o nosso verdadeiro espelho não é tão fácil assim. Você lembra o que o cisnezinho precisava fazer para poder se enxergar?
     —O que?
     — Ele primeiro precisou parar de tentar ser um pato. Isso significa parar de tentar ser quem a gente não é. Depois, ele aceitou ficar um tempo sozinho para se encontrar.
     — Por isso ele passou muito frio, não é, vovó?
     — Passou frio, fome e ficou sozinho no inverno.
     — É por isso que o papai anda tão sozinho e bravo?
     — Não entendi, minha filha?
     — Meu pai está sempre bravo, sempre quieto com a música e a televisão dele. Outro dia ele estava chorando no banheiro...
     — Vó, o papai é um cisne que pensa que é um pato?
     — Todos nós somos, querida. Em parte.
     — Ele vai descobrir quem ele é de verdade?
     — Vai, minha filha, vai. Mas, quando estamos no inverno, não podemos desistir, nem esperar que o espelho venha até nós. Temos que exercer a humildade e procurar ajuda até encontrarmos.
     — E aí viramos cisnes?
     — Nós já somos cisnes. Apenas temos que deixar que o cisne venha para fora e tenha espaço para viver e para se manifestar.
     — Aonde você vai?
     — Vou contar para o papai o cisne bonito que ele é!
     A boa vovó apenas sorriu!

O LENHADOR E A RAPOSA
        Um lenhador acordava todos os dias às 6 horas da manhã e trabalhava o dia inteiro cortando lenha, só parando tarde da noite. Ele tinha um filho lindo de poucos meses e uma raposa, sua amiga, tratada como bichano de estimação e de sua total confiança. Todos os dias, o lenhador — que era viúvo — ia trabalhar e deixava a raposa cuidando do bebê. Ao anoitecer, a raposa ficava feliz com a sua chegada.   
     Sistematicamente, os vizinhos do lenhador alertavam que a raposa era um animal selvagem, e, portanto, não era confiável. Quando sentisse fome comeria a criança. O lenhador dizia que isso era uma grande bobagem, pois a raposa era sua amiga e jamais faria isso. Os vizinhos insistiam: Lenhador, abra os olhos! A raposa vai comer seu filho. Quando ela sentir fome vai devorar seu filho. 
      Um dia, o lenhador, exausto do trabalho e cansado desses comentários, chegou à casa e viu a raposa sorrindo como sempre, com a boca totalmente ensangüentada. O lenhador suou frio e, sem pensar duas vezes, deu uma machadada na cabeça da raposa. A raposinha morreu instantaneamente.
     Desesperado, entrou correndo no quarto. Encontrou seu filho no berço, dormindo tranqüilamente, e, ao lado do berço, uma enorme cobra morta.

O CALDEIREIRO
     Um caldeireiro foi contratado para consertar um enorme sistema de caldeiras de um navio a vapor que não estava funcionando bem. Após escutar a descrição feita pelo engenheiro quanto aos problemas e de haver feito umas poucas perguntas, dirigiu-se à sala de máquinas. Olhou, durante alguns instantes, para o labirinto de tubos retorcidos. A seguir, pôs-se a escutar o ruído surdo das caldeiras e o silvo do vapor que escapava. Com as mãos apalpou alguns tubos. Depois, cantarolando suavemente só para si, procurou em seu avental alguma coisa e tirou de lá um pequeno martelo, com o qual bateu apenas uma vez em uma válvula vermelha. Imediatamente, o sistema inteiro começou a trabalhar com perfeição e o caldeireiro voltou para casa.      
      Quando o dono do navio recebeu uma conta de R$ 2.000,00 queixou-se de que o caldeireiro só havia ficado na sala de máquinas durante quinze minutos e solicitou uma conta pormenorizada.
      Eis o que o caldeireiro lhe enviou:
Total ................: R$ 2.000,00
Martelada ..........: R$       0,50
Onde martelar ....: R$ 1.999,50

O VELHO POTE RACHADO
      Um carregador de água, na Índia, levava dois potes grandes, ambos pendurados em cada ponta de uma vara a qual ele carregava atravessada em seu pescoço. Um dos potes tinha uma rachadura, enquanto o outro era perfeito e sempre chegava cheio de água no fim da longa jornada entre o poço e a casa do Senhor para quem o carregador trabalhava. O pote rachado sempre chegava com água apenas pela metade.      
       Foi assim por dois anos. Diariamente, o carregador entregando um pote e meio de água na casa de seu Senhor. Claro, o pote perfeito estava orgulhoso de suas realizações. Porém, o pote rachado estava envergonhado de sua imperfeição. Sentia-se miserável por ser capaz de realizar apenas a metade do que lhe havia sido designado fazer.
      Após perceber que por dois anos havia sido uma falha amarga, o pote rachado, um dia, falou para o carregador à beira do poço: — Estou envergonhado. Quero lhe pedir desculpas.     
      — Por que? — perguntou o homem. — De que você está envergonhado?
      — Nesses dois anos — disse o pote — eu fui capaz de entregar apenas metade da minha carga, porque essa rachadura no meu lado faz com que a água vaze por todo o caminho que leva à casa de seu Senhor. Por causa do meu defeito você não ganha o salário completo dos seus esforços. 
      O carregador ficou triste pela situação do velho pote, e, com compaixão, falou: — Quando retornarmos à casa do meu Senhor, quero que observes as flores ao longo do caminho.   
      De fato. À medida que eles subiam a montanha, o velho pote rachado notou muitas e belas flores selvagens ao lado do caminho, e isto lhe deu ânimo. Mas, no fim da estrada, o velho pote ainda se sentia mal, porque, mais uma vez, tinha vazado a metade da água, e, de novo, pediu desculpas ao carregador por sua falha.
      O carregador, então, disse ao pote: — Você notou que pelo caminho só havia flores no seu lado do caminho? Notou ainda que a cada dia, enquanto voltávamos do poço, você as regava? Por dois anos eu pude colher flores para ornamentar a mesa do meu Senhor. Sem você ser do jeito que você é, ele não poderia ter essa beleza para dar graça à sua casa.
O SÁBIO SAMURAI

       Perto de Tóquio, vivia um grande samurai, já idoso, que agora se dedicava a ensinar Zen aos jovens. Apesar de sua idade, corria a lenda de que ainda era capaz de derrotar qualquer adversário.
       Certa tarde, um guerreiro, conhecido por sua total falta de escrúpulos, apareceu por ali. Era famoso por utilizar a técnica da provocação. Esperava que seu adversário fizesse o primeiro movimento e, dotado de uma inteligência privilegiada para observar os erros cometidos, contra-atacava com velocidade fulminante. O jovem e impaciente guerreiro jamais havia perdido uma luta. Conhecendo a reputação do samurai, estava ali para derrotá-lo e aumentar sua fama.
      Todos os estudantes se manifestaram contra a idéia, mas o velho e sábio samurai aceitou o desafio. Foram todos para a praça da cidade. Lá, o jovem começou a insultar o velho mestre. Chutou algumas pedras em sua direção, cuspiu em seu rosto, gritou todos os insultos que conhecia, ofendendo, inclusive, seus ancestrais. Durante horas fez tudo para provocá-lo, mas o velho sábio permaneceu impassível. No final da tarde, sentindo-se exausto e humilhado, o impetuoso guerreiro desistiu e retirou-se.
       Desapontados pelo fato de o mestre ter aceitado tantos insultos e tantas provocações, os alunos perguntaram: — Como o senhor pôde suportar tanta indignidade? Por que não usou sua espada, mesmo sabendo que poderia perder a luta, ao invés de se mostrar covarde e medroso diante de todos nós?
      Se alguém chega até você com um presente, e você não o aceita, a quem pertence o presente? — perguntou o Samurai.
      A quem tentou entregá-lo — respondeu um dos discípulos.
      O mesmo vale para a inveja, a raiva e os insultos — disse o mestre. — Quando não são aceitos, continuam pertencendo a quem os carrega consigo. A sua paz interior, depende exclusivamente de você. As pessoas não podem lhe tirar a serenidade, só se você permitir!


CONTO CHINÊS
     Conta-se que, por volta do ano 250 a.C, na China antiga, um príncipe da região norte do País estava às vésperas de ser coroado Imperador, mas, de acordo com a lei, deveria se casar. Sabendo disso, resolveu fazer uma disputa entre as moças da corte, inclusive quem quer que se achasse digna de sua proposta que não pertencesse à corte.
     No dia seguinte, o príncipe anunciou que receberia, numa celebração especial, todas as pretendentes e apresentaria um desafio. Uma velha senhora, serva do palácio há muitos anos, ouvindo os comentários sobre os preparativos, sentiu uma leve tristeza, pois sabia que sua jovem filha nutria um sentimento de profundo amor pelo príncipe.
     Ao chegar à casa e relatar o fato à jovem filha, espantou-se ao saber que ela já sabia sobre o dasafio e que pretendia ir à celebração.
     Então, indagou incrédula: — Minha filha, o que você fará lá? Estarão presentes todas as mais belas e ricas moças da corte. Tire esta idéia insensata da cabeça. Eu sei que você deve estar sofrendo, mas não transforme o sofrimento em loucura.
     A filha respondeu: — Não, querida mãe. Não estou sofrendo e muito menos louca. Eu sei perfeitamente que jamais poderei ser a escolhida. Mas é minha única oportunidade de ficar, pelo menos alguns momentos, perto do príncipe. Isto já me torna feliz.
     À noite, a jovem chegou ao palácio. Lá estavam, de fato, todas as mais belas moças com as mais belas roupas, com as mais belas jóias e com as mais determinadas intenções. Então, inicialmente, o príncipe anunciou o desafio: — Darei a cada uma de vocês uma semente. Aquela que, dentro de seis meses, me trouxer a mais bela flor, será escolhida minha esposa e futura Imperatriz da China.
     A proposta do príncipe não fugiu às profundas tradições daquele povo, que valorizava muito a especialidade de cultivar algo, sejam relacionamentos, costumes ou amizades.
     O tempo foi passando. E a doce jovem, como não tinha muita habilidade nas artes da jardinagem, cuidava com muita paciência e ternura a sua semente, pois sabia que se a beleza da flor surgisse na mesma extensão de seu amor, ela não precisaria se preocupar com o resultado.
     Passaram-se três meses e nada surgiu. A jovem tudo tentara. Usara de todos os métodos que conhecia, mas nada havia nascido. Dia após dia ela percebia cada vez mais longe o seu sonho; mas cada vez mais profundo o seu amor. Por fim, os seis meses haviam passado e nada havia brotado. Consciente do seu esforço e da sua dedicação, a moça comunicou à mãe que, independentemente das circunstâncias, retornaria ao palácio na data e na hora combinadas, pois não pretendia nada além de mais alguns momentos na companhia do príncipe.
     Na hora marcada estava lá, com seu vaso vazio, bem como todas as outras pretendentes. Mas, cada jovem com uma flor mais bela do que a outra, das mais variadas formas e cores. Ela estava admirada. Nunca havia presenciado tão bela cena.
     Finalmente, chega o momento esperado e o príncipe passa a observar cada uma das pretendentes com muito cuidado e atenção. Após passar por todas, uma a uma, ele anunciou o resultado, indicando a bela jovem que não levara nenhuma flor como sua futura esposa. As pessoas presentes na corte tiveram as mais inesperadas reações. Ninguém compreendeu porque o príncipe havia escolhido justamente aquela que nada havia cultivado.
     Então, calmamente o príncipe esclareceu: — Esta foi a única que cultivou a flor que a tornou digna de se tornar uma Imperatriz. A flor da Honestidade. Pois, todas as sementes que entreguei eram estéreis.

INOCENTE OU CULPADO?
     Conta uma lenda que, na Idade Média, um homem muito religioso foi injustamente acusado de ter assassinado uma mulher. Na verdade, o autor do crime era uma pessoa influente no reino e, por isso, desde o primeiro momento, se procurou um bode expiatório para acobertar o verdadeiro assassino.
     O homem injustamente acusado de ter cometido o assassinato foi levado a julgamento. Ele sabia que tudo iria ser feito para condená-lo e que teria poucas chances de sair vivo das falsas acusações. A forca o esperava!
     O juiz, que também estava conluiado para levar o pobre homem à morte, simulou um julgamento justo, fazendo uma proposta ao acusado para que provasse sua inocência.
    Disse o desonesto juiz: — Como o senhor, sou um homem profundamente religioso. Por isso, vou deixar sua sorte nas mãos de deus. Vou escrever em um papel a palavra INOCENTE e em outro a palavra CULPADO. Você deverá pegar apenas um dos papéis. Aquele que você escolher será o seu veredicto.
     Sem que o acusado percebesse, o inescrupuloso juiz escreveu nos dois papéis a palavra CULPADO, fazendo, assim, com que não houvesse alternativa para o homem. O juiz, então, colocou os dois papéis em uma mesa e mandou o acusado escolher um. O homem, pressentindo o embuste, fingiu se concentrar por alguns segundos a fim de fazer a escolha certa. Aproximou-se confiante da mesa, pegou um dos papéis e rapidamente colocou-o na boca e o engoliu. Os presentes reagiram surpresos e indignados com tal atitude.
     O homem, mais uma vez demonstrando confiança, disse: — Agora basta olhar o papel que se encontra sobre a mesa e saberemos que engoli aquele em que estava escrito o contrário.

O TESOURO OCULTO:
O Covarde, o Corajoso e o Ganancioso
     Um homem, que vivia perto de um cemitério, uma noite, ouviu uma voz que o chamava de uma sepultura. Sendo covarde demais para, sozinho, investigar o que se passava, confiou o ocorrido a um corajoso amigo que, após estudar o local de onde saíra a voz, resolveu voltar à noite para ver o que aconteceria.
     Anoiteceu. Enquanto o covarde tremia de medo, seu amigo foi ao cemitério e ouviu a mesma voz saindo de uma sepultura. O amigo perguntou à voz quem era e o que desejava. A voz, vinda de baixo, respondeu: — Sou um tesouro oculto e decidi dar-me a alguém. Eu me ofereci a um homem ontem à noite, mas ele era tão medroso que não veio me buscar. Por isso, dou-me a você que é merecedor. Amanhã de manhã, irei à sua casa com meus Sete Irmãos.
     O homem corajoso disse: — Estarei esperando por vocês, mas, por favor, diga-me como devo tratá-los. A voz explicou: — Iremos todos vestidos de monge. Tenha uma sala pronta para nós com água. Lave o seu corpo, limpe a sala e tenha Oito cadeiras e Oito tigelas de sopa para nós. Após a refeição, você deverá conduzir cada um de nós a um quarto fechado, no qual nos transformaremos em potes cheios de ouro.
     Na manhã seguinte, o homem corajoso lavou o corpo conforme lhe fora recomendado, limpou a sala como lhe fora ordenado, e ficou à espera dos oito monges. À hora aprazada, os oito monges apareceram, tendo sido recebidos cortesmente pelo corajoso homem. Depois que tomaram a sopa, ele os conduziu, um por um, aos quartos fechados, nos quais cada monge se transformou em um pote cheio de ouro.
     Um homem muito ganancioso que vivia naquela mesma aldeia, ao tomar conhecimento do incidente, desejou também ter para si os potes de ouro. Para tanto, convidou os oito monges para virem até sua casa. Depois que eles tomaram a refeição, o ganancioso, esperando obter o almejado tesouro, conduziu cada um a um quarto fechado. Entretanto, ao invés de se transformarem em potes de ouro, os monges, enfurecidos com a cobiça do espertalhão, denunciaram o ganancioso à polícia, que o prendeu.
     Quanto ao covarde, quando ouviu que a voz da sepultura havia trazido riqueza ao seu corajoso amigo, foi até a casa dele e, avidamente, lhe pediu o ouro, insistindo que era seu porque a voz foi dirigida primeiramente a ele. Quando o medroso tentou pegar os potes, neles encontrou apenas cobras venenosas erguendo as cabeças prontas para atacá-lo.
     O rei, tomando conhecimento desse fato, determinou que os potes pertenciam ao homem corajoso, dizendo: — Assim se passa com tudo neste mundo. Os tolos cobiçam sempre os bons resultados, mas são covardes ou ineptos para procurá-los, e, por isso, estão continuamente falhando. Não têm confiança nem coragem para enfrentar as intestinas lutas que ocorrem na mente. Só com determinação, confiança e coragem se poderá dar início à Peregrinação que conduzirá à verdadeira Paz Profunda e à Harmonia Interior.

BOM CORAÇÃO
     No tempo do Buda vivia uma velha mendiga chamada Confiando na Alegria. Ela observava os reis, príncipes e o povo em geral fazendo oferendas ao Buda e a seus discípulos, e não havia nada que quisesse mais do que poder fazer o mesmo. Saiu então pedindo esmolas, mas, no fim do dia não havia conseguido mais do que uma moedinha.
     Levou a moedinha ao mercado para tentar trocá-la por algum óleo, mas o vendedor lhe disse que aquilo não dava para comprar nada. Entretanto, quando soube que ela queria fazer uma oferenda ao Buda, encheu-se de pena e deu-lhe o óleo que queria. A mendiga foi para o mosteiro e acendeu a lâmpada. Colocou-a diante do Buda e fez o seguinte pedido: — Nada tenho a oferecer senão esta pequena lâmpada. Mas, com esta oferenda, possa eu no futuro ser abençoada com a Lâmpada da Sabedoria. Possa eu libertar todos os seres das suas trevas, purificar todos os seus obscurecimentos e levá-los à Iluminação.
     Durante a noite, o óleo de todas as lâmpadas havia acabado. Mas a lâmpada da mendiga ainda queimava na alvorada, quando Maudgalyayana — o discípulo do Buda — chegou para recolher as lâmpadas. Ao ver aquela única lâmpada ainda brilhando, cheia de óleo e com pavio novo, pensou: 'Não há razão para que essa lâmpada continue ainda queimando durante o dia', e tentou apagar a chama com os dedos, mas foi inútil. Tentou abafá-la com suas vestes, mas ela ainda ardia. O Buda, que o observava há algum tempo, disse: — Maudgalyayana: você quer apagar essa lâmpada? Não vai conseguir. Não conseguiria nem movê-la daí, que dirá apagá-la. Se jogasse nela toda a água dos oceanos, ainda assim não adiantaria. A água de todos os rios e lagos do mundo não poderia extinguir esta chama.
      — Por que não? — Perguntou o discípulo de Buda.
     — Porque ela foi oferecida com devoção e com pureza de coração e de mente. Essa motivação produziu um enorme benefício.
     Quando o Buda terminou de falar, a mendiga se aproximou e ele profetizou que no futuro ela se tornaria um Perfeito Buda e seria conhecido como Luz da Lâmpada.
     Em tudo, o nosso sentimento é o que importa. A intenção, boa ou má, influencia diretamente nossa vida no futuro. Qualquer ação, por mais simples que seja, se feita com coração, produz benefícios na vida das pessoas.

CIDADE FANTASMA

     Um grupo de viajantes, tendo ouvido falar de uma cidade cheia de tesouros, parte para enfrentar uma difícil jornada. Para chegar à cidade, teriam que percorrer uma estrada extremamente longa que atravessava desertos, florestas e terras perigosas. Nenhum trecho dessa estrada era seguro e os viajantes teriam de ter muita coragem e persistência para atingir sua meta.
     Haviam completado mais da metade da jornada e acabado de sair de uma densa floresta, quando o guia que os conduzia, que conhecia bem o caminho, avisou que logo iriam se aventurar por um deserto.
     O sol escaldante e as fortes tempestades de areia provaram ser demais para eles. Os viajantes estavam tão cansados que começaram a perder a coragem e a querer desistir dos tesouros em troca da segurança de seus lares que haviam deixado para trás. O guia, contudo, estava determinado a levar todos, não importando como. Ele usou, então, seus poderes místicos, fazendo surgir uma cidade monumental no meio do deserto.
     Instantaneamente, os viajantes tiveram uma visão fantástica. Apareceu 'do nada' um lindo oásis repleto de árvores, por entre as quais viram uma cidade. Imediatamente, correram até lá com grande alegria. Todo o cansaço, todas as dores e todo o desânino desapareceram em um instante, para dar lugar ao otimismo, à alegria e à esperança. Eles se banharam, saborearam comidas deliciosas e dormiram tranqüilamente. Em suas conversas, nem cogitavam a idéia de desistir da jornada e de retornar aos seus lares.
     Na manhã seguinte, logo que despertaram, ficaram estarrecidos ao ouvir o guia lhes dizer que tinham de deixar aquele lugar maravilhoso e seguir viagem.
     — Mas, este é exatamente o paraíso que procurávamos por tanto tempo! — exclamou um deles.
     Não. — respondeu o guia — Os senhores nem sequer alcançaram o primeiro terço da jornada. Este é somente um ponto de descanso, um lugar para se refrescarem. Acreditem! O destino final é muito mais belo do que esta cidade e não está tão longe. Agora que tivemos tempo para descansar e relaxar, teremos que continuar nossa peregrinação.
     Dito isso, a cidade desapareceu na areia.

O LOBO E O CORDEIRO
Um cordeiro a sede matava
Nas águas limpas de um regato.
Eis que se avista um lobo que por lá passava
Em forçado jejum, aventureiro inato.
E lhe diz irritado: — Que ousadia
A tua, de turvar, em pleno dia,
A água que bebo! Hei de castigar-te!
— Majestade, permiti-me um aparte —
Diz o cordeiro. — Vede:
Estou matando a sede
Com água a jusante,
Bem uns vinte passos adiante
De onde vos encontrais.
Assim, por conseguinte,
Para mim seria impossível
Cometer tão grosseiro acinte.
— Mas turvas. E, ainda mais horrível,
Foi que falaste mal de mim no ano passado.
— Mas como poderia — pergunta assustado
O cordeiro — se eu não era nascido?
— Ah, não? Então deve ter sido
Certamente teu irmão.
— Peço-vos perdão
Mais uma vez.
Mas deve ser engano,
Pois eu não tenho mano.
— Então, algum parente.
Teus tios, teus pais...
Cordeiros, cães, pastores,
Vós não me poupais;
Por isso, hei de vingar-me.
E o leva até o recesso da mata,
Onde o esquarteja e come sem processo.

A CIGARRA E A FORMIGA
     De fora para dentro, o capital volátil reaparece e o capital produtivo desacelera. Falam os números do primeiro trimestre, divulgados quinta-feira. Mas é preciso interpretar o que os números estão falando para não se tirar conclusões desconectadas nem fazer projeções furadas. O capital volátil, por semântica, é de caráter especulativo e/ou transitório. Entra e sai do País como quem, fora de hábito, entra e sai da ducha fria: sempre correndo. Acionado por bancos e fundos, ele é movido a risco-país, sinalizador terceirizado de qualidade duvidosa. Dá carona também a créditos de curtíssimo prazo e a movimentos de cash-flow das transnacionais aqui estabelecidas. Nada contra. O capital produtivo é internado, para ficar, pelas mesmas empresas transnacionais no desenvolvimento de seus projetos e negócios da economia real. O retorno é parcial e homeopático. Ao contrário dos juros, a repatriação de lucros não constitui exigível com data marcada.
     Nos juros, a repatriação do empréstimo ocorre antes mesmo da conclusão do projeto ou da operação da empresa. Nos lucros, a remessa só ocorre se a empresa apurar ganhos na atividade econômica e se quiser repatriar alguma fração desses ganhos. Até porque, se o Brasil dá lucro nos mercados de bens e serviços operados por elas, o negócio é reaplicar todo o lucro aqui mesmo. A maioria delas tem feito isso.
     E mais: no capital produtivo de fora para dentro, junto com a poupança externa desembarcam a tecnologia, a gestão, o emprego, o salário, o tributo, a competição. O comparativo é acaciano, mas adequado para a leitura correta dos números que se seguem.
     No primeiro trimestre, entraram pelo capital produtivo exatos US$ 1,977 bilhão. Contra US$ 4,7 bilhões no mesmo período do ano passado. Um tombo de 57%. Com boa explicação ou justificativa na tremenda desvalorização do real de lá para cá. O dólar das múltis, no ponta a ponta, cresceu 43% em poder de compra no mercado interno.
     No mesmo cotejo, o ingresso do capital volátil passou de US$ 149 milhões no primeiro trimestre de 2002 para exatos US$ 1,965 bilhão aqui em 2003. Deu empate técnico com o capital produtivo.
   Além do efeito câmbio, a desaceleração estatística do investimento das transnacionais tem algo a ver, não com a 'queda da confiança das múltis no futuro da economia brasileira', mas com a digestão de sucuri da 'grande invasão' nos oito anos da Era FHC.
     De 1995 a 2002, elas trouxeram para cá nada menos de US$ 143 bilhões (a dólar de 2001). Entre os 10 maiores emergentes, o Brasil só perdeu em recepção, nesse longo período, para o pirotécnico advento da China, endereço de um terráqueo em cada cinco.
     O importante é que o capital produtivo vai continuar, aí pela proa, com ingresso acima de US$ 12 bilhões por ano. O resto é desinformação.


PAZ PROFUNDA
    Havia um Rei que ofereceu um grande prêmio ao artista que fosse capaz de captar em uma pintura a Paz Profunda.
     Muitos artistas apresentaram suas telas.
     O Rei observou e admirou todas as pinturas, mas houve apenas duas de que ele realmente gostou e teve de escolher entre ambas.
     A primeira era um lago muito tranqüilo. Este lago era um espelho perfeito onde se refletiam plácidas montanhas que o rodeavam. Sobre elas encontrava-se um Paraíso muito azul com tênues nuvens brancas.
     Todos os que olharam para esta pintura pensaram que ela refletia a Paz Profunda.
     A segunda pintura também tinha montanhas. Mas estas eram escabrosas e estavam despidas de vegetação. Sobre elas havia um Paraíso tempestuoso do qual se precipitava um forte aguaceiro com relâmpagos e trovões. Montanha abaixo parecia retumbar uma espumosa torrente de água. Tudo isto se revelava nada pacífico.
     Mas, quando o Rei observou mais atentamente, reparou que atrás da cascata havia um arbusto crescendo de uma fenda na rocha. Neste arbusto encontrava-se um ninho. Ali, em meio ao ruído da violenta turbulência da água, estava um passarinho placidamente sentado no seu ninho... Em Profunda Paz!
     O Rei escolheu a segunda tela e explicou: — PAZ PROFUNDA não significa estar em um lugar sem ruídos, sem problemas, sem trabalho árduo para realizar ou livre das dores e das tentações da encarnação. PAZ PROFUNDA significa que, apesar de se estar em meio a tudo isso, permanecemos calmos e confiantes no SANTUÁRIO SAGRADO do NOSSO CORAÇÃO. Lá encontraremos a Verdadeira PAZ PROFUNDA. Em SILENCIOSA MEDITAÇÃO.

AHMAD MUSSAIN E O IMPERADOR
     O Imperador Mahmud El-Ghazna passeava um dia com o sábio Ahmad Mussain, que tinha reputação de ler pensamentos. O Imperador, há algum tempo, vinha tentando que o sábio fizesse diante dele uma demonstração de sua capacidade. Como Ahmad se recusava a fazer a sua vontade, Mahmud havia decidido recorrer a um ardil para que o sábio, sem o perceber, exercesse seus extraordinários dotes na sua presença.
     — Ahmad — chamou o Imperador.
     — Que desejas, Senhor?
     — Qual é o ofício do homem que está perto de nós?
     — É um carpinteiro.
     — Como se chama?
     — Ahmad, como eu.
     — Será que comeu alguma coisa doce recentemente?
     — Sim, comeu.
     Chamaram o homem e ele confirmou tudo o que o sábio havia dito. — Tu — disse o Imperador — te recusaste a fazer uma demonstração dos teus poderes na minha presença. Percebeste que te forcei, sem que o notasses, a demonstrar tua capacidade, e que o povo te transformaria num santo se eu contasse em público as revelações que me fizeste? Como é possível que continues ocultando a tua condição de sufi e pretendas passar por um homem qualquer?
     — Admito que posso ler pensamentos — concordou Ahmad — mas o povo não percebe quando faço isso. Minha dignidade e meu amor-próprio não me permitem exercer esse dom com propósitos frívolos. Por isso meu segredo continua ignorado.
     — Mas admites que agora mesmo acabas de usar teus poderes?
     — Não, absolutamente não.
     — Então como pudeste responder minhas perguntas acertadamente?
     — Facilmente, Senhor. Quando me chamaste, esse homem virou a cabeça, o que me indicou que seu nome era igual ao meu. Deduzi que era carpinteiro porque, neste bosque, só dirigia o olhar para árvores aproveitáveis. E sei que acabara de comer alguma coisa doce, porque vi que estava espantando as abelhas que procuravam pousar nos seus lábios. Lógica, meu Senhor. Nada de dons ocultos ou especiais.

A VISÃO DE FUTURO
Era uma vez um escritor que morava numa praia tranqüila, junto a uma colônia de pescadores. Todas as manhãs ele passeava à beira mar para se inspirar, e de tarde ficava em casa, escrevendo.
Um dia, caminhando na praia, ele viu um vulto que parecia dançar. Quando chegou perto, era um jovem pegando na areia as estrelas do mar, uma por uma, e jogando novamente de volta ao oceano.
- Por que você está fazendo isso? - perguntou o escritor.
- Você não vê? - disse o jovem. - A maré está baixa e o sol está brilhando. Elas vão secar no sol e morrer, se ficarem aqui na areia.
- Meu jovem, existem milhares de quilômetros de praia por esse mundo afora, e centenas de milhares de estrelas do mar, espalhadas pelas praias. Que diferença faz? Você joga umas poucas de volta ao oceano. A maioria vai perecer de qualquer forma.
O jovem pegou mais uma estrela na areia, jogou de volta ao oceano, olhou para o escritor e disse:
- Pra essa, eu fiz diferença.
Naquela noite o escritor não conseguiu dormir nem sequer escrever. De manhãzinha foi para a praia, reuniu-se ao jovem e juntos começaram a jogar estrelas do mar de volta ao oceano.
Esperamos que você seja um dos que querem fazer deste universo um lugar melhor devido à sua presença. Assim sendo, aguardo a sua chegada para juntos podermos jogar estrelas do mar de volta ao oceano.

O BAMBU
   
 Era uma vez em que havia milhões de estrelas no céu. Estrelas de todas as cores: brancas, lilases, prateadas, douradas, vermelhas, azuis...
Um dia, elas procuraram o Senhor, o Deus do Universo, e disseram-lhe:
- Senhor Deus, gostaríamos de viver na Terra com os homens.
- Assim será feito - disse-lhes Deus -, conservarei vocês todas pequeninas como são vistas e podem descer à Terra.
- Conta-se que naquela noite houve uma linda chuva de estrelas. Umas desceram nas torres das igrejas, outras foram voar e brincar com os vaga-lumes no campo, outras se misturaram nos brinquedos das crianças e a Terra ficou maravilhosamente iluminada. Porém, passando algum tempo, as estrelas resolveram abandonar os homens e voltar ao céu, deixando a Terra escura e triste.
- Por que voltaram? Perguntou Deus, à medida em que voltavam ao céu.
- Senhor, não nos foi possível permanecer na Terra. Lá existe muita miséria, muita desgraça, fome, violência, guerra maldade, doença...
E o Senhor lhes disse:
- Claro, o lugar de vocês é aqui no céu, a Terra é o lugar do transitório, daquilo que passa, do imperfeito, daquele que caiu, daquele que erra, daquele que morre...Aqui no céu é o lugar da perfeição, o lugar onde tudo é bom, onde tudo é eterno...
Depois que chegaram as estrelas me conferindo o seu número, Deus falou de novo:
- Mas está faltando uma estrela! Será que se perdeu no caminho?
Um anjo que estava perto retrucou:
- Não, Senhor! A estrela resolveu ficar entre os homens, ela descobriu que seu lugar é exatamente onde está a imperfeição, onde há limites, onde as coisas não vão bem...
- Mas que estrela é essa? - Voltou Deus a perguntar.
- Por coincidência, Senhor, era a única estrela desta cor.
- E qual era a cor desta estrela? - Insistiu Deus.
- É verde, Senhor! A estrela verde do sentimento da esperança.
E, quando olharam para a Terra, a estrela verde já não estava mais sozinha.
A Terra estava novamente iluminada, porque havia uma estrela verde no coração de cada pessoa, porque o único sentimento que o homem tem e Deus não tem é a Esperança. Deus já conhece o futuro e a esperança é própria da natureza humana, própria

COMO NASCEU A ALEGRIA
Você pode não acreditar, mas é verdade: muitos anos atrás a terra era um jardim maravilhoso. É que os anjos, ajudados pelos elefantes, regavam tudo, com regadores cheios de água que eles tiravam das nuvens. Esta era a sua primeira tarefa, todo dia. Se esquecessem, todas as plantas morreriam, secas, estorricadas... Para que isso não acontecesse, Deus chamou o galo e lhe disse:
- Galo, logo que o sol aparecer, bem cedinho, trate de cantar bem alto para que os anjos e os elefantes acordem...
E é por isto que, ainda hoje, os galos cantam de manhã...
Flores havia aos milhares. Todas eram lindas. Mas, infelizmente, todas elas eram igualmente vaidosas e cada uma pensava ser a mais bela.
E, exibindo as suas pétalas, umas para as outras, elas se perguntavam, sem parar:
- Não sou a mais linda de todas?
Até pareciam a madrasta da Branca de Neve. Por causa da vaidade, nenhuma delas ouvia o que as outras diziam e nem percebiam que todas eram igualmente belas.
Por isso, todas ficavam sem resposta.
E eram, assim, belas e infelizes.
No meio de tanta beleza infeliz, entretanto, certo dia uma coisa inesperada aconteceu. Uma florinha, que estava crescendo dentro de um botão, e que deveria ser igualmente bela e infeliz, cortou uma de suas pétalas num espinho, ao nascer. A florinha nem ligou e vivia muito feliz com sua pétala partida. Ela não doía. Era uma pétala macia. Era amiga.
Até que ela começou a notar que as outras flores a olhavam com olhos espantados. E percebeu, então, que era diferente.
- Por que é que as outras flores me olham assim, papai, com tanto espanto, olhos tão fixos na minha pétala...?
- Por que será? Que é que você acha?, perguntou o pai.
Na verdade, ele bem sabia de tudo. Mas ele não queria dizer. Queria que a florinha tivesse coragem para olhar para as vaidosas e amar a sua pétala.
- Acho que é porque eu sou meio esquisita..., a florinha respondeu.
E ela foi ficando triste, triste... Não por causa da sua pétala rachada, mas por causa dos olhos das outras flores.
- Já estou cansada de explicar. Eu nasci assim... Mas elas perguntam, perguntam, perguntam...
Até que ela chorou.
Coisa que nunca tinha acontecido com as flores belas e infelizes.
A terra levou um susto quando sentiu o pingo de uma lágrima quente, porque as outras flores não choravam.
E ela chamou a árvore e lhe contou baixinho:
- A florinha está chorando.
E a terra chorou também.
A árvore chamou os pássaros e lhes contou o que estava acontecendo. E, enquanto falava, foi murchando, esticando seus galhos num longo lamento, e continua a chorar até hoje, à beira dos rios e dos lagos, aquela árvore triste que tem o nome de chorão. E das pontas dos seus galhos correram as lágrimas que se transformaram num fiozinho de água...
Os pássaros voaram até as nuvens.
- Nuvens, a florinha está chorando.
E choraram lágrimas que se transformaram em pingos de chuva...
As nuvens choraram também, juntando-se aos pássaros numa chuva enorme, choro do céu.
As lágrimas das nuvens molharam as camisolas dos anjinhos que brincavam no céu macio. E quiseram saber o que estava acontecendo. E quando souberam que a florinha estava chorando, choraram também...
E Deus, que era uma flor, começou a chorar também.
E a sua dor foi tão grande que, devagarinho, como se fosse espinho, ela foi cortando uma de suas pétalas.
E Deus ficou tal e qual a florinha.
E aquele choro todo, da terra, das árvores, dos pássaros, dos anjos, de Deus, virou chuva, como nunca havia caído.
O sol, sempre amigo e brincalhão, não agüentou ver tanta tristeza. Chorou também. E a sua boca triste virou o arco-íris...
E as chuvas viraram rios e os rios viraram mares. Nos rios nasceram peixes pequenos. Nos mares apareceram os peixes grandes.
A florinha abriu os olhos e se espantou com todo aquele reboliço. Nunca pensou que fosse tão querida. E a sua tristeza foi virando, lá dentro, uma espécie de cócega no coração, e sua boca se entortou para cima, num riso gostoso...
E foi então que aconteceu o milagre.
As flores belas e infelizes não tinham perfume, porque nunca riam. Quando a florinha sorriu, pela primeira vez, o perfume bom da flor apareceu. O perfume é o sorriso da flor.
E o perfume foi chamando bichos e mais bichos...
Vieram as abelhas... Vieram os beija-flores... Vieram as borboletas... Vieram as crianças. Um a um, beijaram a única flor perfumada, a flor que sabia sorrir. E sentiram, pela primeira vez, que a florinha, lá dentro do seu sorriso, era doce, virava mel...
Esta é a estória do nascimento da alegria.
De como a tristeza saiu do choro, do choro surgiu o riso e o riso virou perfume.
A florinha não se esqueceu de sua pétala partida. Só que, deste dia em diante, ela não mais sofria ao olhar para ela, mas a agradava, como boa amiga.
Quanto aos regadores dos anjos, nunca mais foram usados.
De vez em quando, olhando para as nuvens, a gente vê um deles, guardado lá dentro, já velho e coberto de teias de aranha... Enquanto a florinha de pétala partida estiver neste mundo, a chuva continuará a cair e o brinquedo de roda em volta do seu sorriso e do seu perfume não terá fim..
 
As parábolas de Jesus: vislumbres do paraíso
Jesus não foi soldado, nem estadista, nem comerciante. Ele era mestre, único e incomparável, mas mestre (Mateus 4:23). Aqueles que o ouviram ficaram "maravilhadas da sua doutrina; porque ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas" Mateus 7:28-29). Mesmo seus inimigos relatavam que jamais tinham ouvido um homem falar como Ele (João 7:46). E por que não? Ele era a mensagem do céu encarnada -- o Verbo se fez carne (João 1:14). Em Jesus os homens viam, com também ouviam, a verdade. Palavra, pensamentos e atos eram maravilhosamente unidos nele. E em sua voz estavam os confiantes ecos da eternidade. Ele tanto sabia, como era, a própria Verdade (João 14:6).
Como mestre, a missão do Filho de Deus era revelar o coração de seu Pai aos homens, para que conhecessem e entendessem sua graciosa vontade para as vidas deles. Tal entendimento não poderia ser criado por divino "faça-se". As maravilhas que Jesus fazia eram notáveis, mas serviam apenas para confirmar sua mensagem (João 3:1-2) que, como a verdadeira fonte da energia salvadora de Deus (Romanos 1:16), tinha, finalmente que ser aceita e entendida como eficaz (João 6:44-45). Por toda sua magnífica demonstração de poder divino, os milagres não poderiam forçar esse entendimento. Tinha que ser atingido por instrução paciente e muitas vezes laboriosa que, mesmo depois de longas horas, dias e meses era submetida a completa rejeição.
Mas por amor perseverante de seu coração Jesus buscava fazer com que todos os homens entendessem, e escolhia abordagens que eram notáveis por sua simplicidade. Ele pegava os homens onde eles estavam e buscava levá-los a onde era necessário que estivessem. Ele se valia do conhecimento deles deste mundo para ensinar-lhes sobre o porvir. Nada há no estilo de Jesus como professor que seja maior expressão disto do que suas parábolas, e aqueles que quiserem entender Jesus precisam chegar finalmente a entender aquelas poderosas histórias ilustrativas que se tornaram o veículo característico de tantas de suas lições. As parábolas de Jesus passaram para a História e se tornaram parte intrínseca de nossa cultura. Ele poderia ter sido imortalizado nos relatos da literatura apenas por causa delas. Se não fosse por toda sua celebridade, elas seriam tão pouco entendidas por esta geração como por aquela à qual foram dirigidas primeiro.
"Parábola", a forma aportuguesada da palavra grega, parabole, vem de um verbo grego que significa "atirar para o lado". Uma parábola é uma história que coloca uma coisa ao lado de outra com o propósito de ensinar. É uma comparação, colocando o conhecido ao lado do desconhecido. Memoravelmente expressada, ela é "uma história terrestre com um significado celestial".
A palavra grega para parábola ocorre cerca de cinqüenta vezes no Novo Testamento, somente duas vezes fora dos evangelhos (Hebreus 9:9 e 11:19, onde é traduzida como "figuradamente"). Em Lucas 4:23 ela é traduzida "provérbio" (RA2,NVI).  É conhecida característicamente como uma narrativa "um pouco longa ... tirada da natureza ou das circunstâncias humanas, o objeto da qual é dar uma lição espiritual" mas também é "usada como um breve ditado ou provérbio" (W. E. Vine, Expository Dictionary of NT Words, p. 158).
Por causa da incerteza do que exatamente constitui uma parábola, as listas das parábolas de Jesus que têm sido compiladas variam em extensão de acordo com o julgamento do compilador. As listas mais longas incluem tais ilustrações como "o bom pastor" (João 10) e "os dois construtores" (Mateus 7:24-27). As listas mais curtas excluem-nas.
Se não podemos determinar com exata certeza se algumas ilustrações de Jesus merecem ser chamadas parábolas, há algumas coisas sobre parábolas que estão fora de dúvida.
Parábolas não são fábulas ou mitos. Não há elementos irreais ou situações impossíveis nelas. De fato, sua força está em serem absolutamente concebíveis e na plausibilidade das circunstâncias que elas descrevem. Elas falam de situações familiares, da vida real.
As parábolas são mais do que provérbios, ainda que às vezes semelhantes em propósito. Nos evangelhos, os provérbios são referidos às vezes como "parábolas": "Médico, cura-te a ti mesmo" (Lucas 4:23); "Ora, se um cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco" (Mateus 15:14-15); "Ninguém tira um pedaço de veste nova e o põe em veste velha;" "E ninguém põe vinho novo em odres velhos..." (Lucas 5:36-37). Mas um provérbio é caracteristicamente um ditado curto e direto, cujo significado é evidente. Uma parábola tende a ser mais longa, mais envolvida, e o significado não tão facilmente visto.
Jesus, até onde sabemos, não começou a ensinar por parábolas antes do fim do segundo ano de seu ministério público (há uma única exceção, Lucas 7:41-42). Foi na presença de uma imensa multidão próximo do Mar da Galiléia, e suas comparações ilustrativas vieram com um ímpeto que surpreendeu seus discípulos (Mateus 13). Em histórias maravilhosamente concretas e simples, Jesus revelou aos seus seguidores os mistérios do reino do céu. Era apenas o começo. Este é um convite para estudar aquelas narrativas maravilhosas que nos convidam a olhar para o próprio coração de Deus.


Parábola do Joio e do Trigo
“ O Reino dos Céus, disse o Cristo, é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo. Mas, enquanto os servos dormiam, veio um inimigo dele, semeou joio no meio do trigo e retirou-se. Quando a erva cresceu e deu fruto, então apareceu também o joio. Chegando os servos ao dono do campo, disseram-lhe: - Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde, pois, vem o joio? E ele lhes disse: - Homem inimigo é que fez isso. Os servos continuaram: - Queres, então, que o arranquemos? Não, respondeu ele, para que não suceda que, tirando o joio, arranqueis com ele também o trigo. Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e no tempo da ceifa direi aos ceifeiros: -Ajuntai primeiro o joio e atai-o em feixes para o queimar; mas o trigo recolham no meu celeiro" (Mateus, 13:24-30).
A significação dessa parábola parece-nos de uma nitidez meridiana.
O Campo somos nós: a Humanidade; o Semeador é Jesus; a Semente de Trigo: o Evangelho; a Erva MÁ á as interpretações capciosas de seus textos; e o Inimigo:- aqueles que as têm lançado de permeio com a lídima doutrina cristã .
O Divino Mestre fizera a boa semeadura, pregando e exemplificando o amor entre os homens, como condição indispensável ao advento de um clima de entendimento fraterno no mundo, eis que os supostos herdeiros de seu apostolado, açulados pelo egoísmo e pelo orgulho, começam a criar questiúnculas e dissensões.
A Religião do Bem, objeto de sua missão terrena, de uma simplicidade incomparável, fragmenta-se em dezenas de religiões mais ou menos aparatosas, com sacerdócio organizado, sustentando dogmas ininteligíveis, preconizando e mantendo cultos pagãos, exterioridades grotescas.
Surgem facções e sub-facções, incriminando-se reciprocamente de heréticas, heterodoxas, etc., e as que se tornam mais poderosas procuram eliminar as outras, afogando-as em sangue, aniquilando-as nas torturas e nas chamas das fogueiras...
E assim, em nome Daquele que fora a personificação da tolerância, da bondade e da doçura, séculos pós-séculos, a discórdia lavra pela Terra; os filhos do mesmo Deus empenham-se em lutas fratricidas, e milhares de vítimas sucumbem, aos golpes da mais estúpida e feroz odiosidade, que há incendiado os corações humanos!
Como pode esse joio nascer e crescer de mistura com o bom trigo? E' que, segundo a palavra de Jesus, os servos "dormiram", isto é, deixaram de "orar e vigiar", permitindo, assim, que o erro ganhasse raízes.
Contemplando essa confusão religiosa, muitos se admiram de que a Providência não a tenha eliminado do globo. Esse dia, entretanto, chegará.
O joio, ao brotar, é muito parecido com o trigo e arrancá-lo antes de estar bem crescido seria inconveniente, por razões óbvias. Na hora da produção dos frutos, em que será feita a distinção entre ambos, já não haverá perigo de equívoco: será ele, então, atado em feixes para ser queimado.
Coisa semelhante irá ocorrer com a Humanidade.
Aproxima-se a época em que a Terra deve passar por profundas modificações, física e socialmente, a fim de transformar-se num mundo regenerador, mais pacífico e, conseqüentemente, mais feliz.
Quando os tempos forem chegados, todos os sistemas religiosos, que se hajam revelado intolerantes e opressores, cairão reduzidos a nada; e todos quantos não se afinem com a nova ordem de coisas, conhecerão o "fogo" da expiação em mundos inferiores, mas de conformidade com o caráter de cada um.
Por outro lado, as almas avessas à guerra, à maldade, ao despotismo (Opressor/Ditador), enfim a tudo quanto tem impedido o estabelecimento da fraternidade cristã entre os homens de todas as Pátrias e de todas as raças, estas hão de merecer o futuro lar terrestre, higienizado em sua aura astral e equilibrado em suas condições climáticas, gozando, finalmente, a paz, a doce e alegre paz, de há muito prometida às criaturas de boa vontade.
Joio= É uma erva daninha. Muito conhecido no oriente, que antes de frutificar é tão parecida com o trigo que é impossível distingui-los. Só mais tarde é que se acentuam as diferenças conforme vão crescendo.
A separação entre ambos se dá em função da sua própria evolução intrínseca, cada qual apresentando suas características.

A Parábola do Semeador
Comece a explanação lembrando ao púbico que geralmente, quando temos contato com novos conhecimentos e princípios, a primeira atitude é tentar levar estas novidades aos nossos parentes e amigos íntimos. Isto porque gostaríamos que eles sentissem a mesma satisfação que estamos tendo. Porém, muitas vezes nosso próximo não entende os princípios como nós entendemos. Acham-nos irreais, complicados ou bons para ouvir, mas não para praticar.
Isso acaba nos desanimando. Mas há uma passagem evangélica, uma parábola, em que Jesus comenta esta situação e à luz da Doutrina Espírita passaremos a compreender por que isso acontece. Nas parábolas, são contadas histórias, geralmente com personagens típicos do ambiente do contador e ouvinte, com um fundo moral. Jesus utilizava muito deste recurso, pois poucos de sua época tinham a condição de entender o que ele dizia, devido à evolução espiritual deles. Ele mesmo afirma isso em Mateus, capítulo XIII, versículo 13 desta passagem. E existindo diferentes graus de evolução espiritual e de entendimento, cada um enxerga de uma maneira, e mesmo que queiramos fazer com que alguém compreenda algo à força, nossa tentativa será em vão. Tudo tem sua hora. Esta é a lei da natureza.
"Eis que o semeador saiu a semear.
E quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do caminho, e vieram as aves, e comeram-na;
E outra parte caiu em pedregais, onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra funda;
Mas vindo o sol, queimou-se, e secou-se, porque não tinha raiz.
E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram, e sufocaram-na.
E outra caiu em boa terra, e deu fruto: um a cem, outro a sessenta e outro a trinta.
Quem tem ouvidos para ouvir, ouça".
(Mateus, XIII, 3 a 9)
O semeador da parábola é Jesus. As sementes são seus ensinos, os quais são distribuídos ao mundo através das religiões.
A partir daí, o Mestre começa fazer um comparativo na maneira de ver e entender de cada pessoa, demonstrando as nuanças da personalidade humana.
As sementes que caem ao pé do caminho e que são comidas pelas aves do céu antes que nasçam simbolizam aqueles que, mesmo tendo a oportunidade de conhecer a palavra de Deus, não se importam com ela. Estão com o pensamento totalmente voltado para a vida mundana. Tudo que se relaciona a Deus ou à moral cristã é visto com desprezo. Jesus compara as aves aos Espíritos maus que aproveitam as más tendências destes indivíduos para os atormentar e inspirá-los a permanecerem longe do Criador.
Já as sementes que caem em pedregais, nascendo logo devido à pouca profundidade da terra, lembra os que conhecem a palavra de Deus e como que num passe de mágica, maravilham-se. Sua mudança de conduta é instantânea, chegando mesmo a ser radical. Tudo que fazem passa a ser voltado para Deus e qualquer deslize de atitude é um martírio.
Na verdade, retratam os seres que creram, mas não compreenderam os ensinos espirituais. Acreditam estar isentos de qualquer outra dificuldade em suas vidas, por estarem dedicando-se ao extremo no trabalho de Jesus. Porém, a existência não é assim, e logo virão as provas e expiações, necessárias ao nosso aprimoramento moral e intelectual. É o sol da parábola, que queimará aquela planta que cresceu sem que tivesse raízes profundas, ou seja, verdadeiro entendimento da vida e suas leis. A pessoa sente-se injustiçada por Deus, que, segundo ela, deveria evitar-lhe dores e dúvidas. E então, deixa por completo o trabalho espiritual e volta para sua descrença, não compreendendo que a natureza não dá saltos, e toda mudança abrupta tende a levar o ser ao ponto inicial.
A parte que caiu entre os espinhos leva àqueles que até escutam e entendem a palavra de Deus. Porém, os espinhos, que são suas preocupações excessivas com o trabalho material sufocam sua tentativa de entendimento e prática da caridade, afastando-os do conhecimento espiritual.
Finalmente, há a semente que cai em boa terra, cresce e frutifica. São aqueles que, compreendendo que a matéria não é tudo, buscam nos ensinamentos espirituais as respostas às suas dúvidas e o consolo às suas dores, fazendo da prática da caridade um hábito da existência.
Mas alerta Jesus que mesmo entre estes há diferenças de entendimento, pois alguns produzirão mais do que os outros. Caberá a cada homem saber se deverá dar trinta, sessenta ou cem por um. A consciência será seu guia.
Quem tiver ouvido de ouvir, ou seja, condição de entender, que assim o faça.
"Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria".
(Paulo, II aos Coríntios, IX, 7).



Nenhum comentário:

Postar um comentário